sábado, 9 de fevereiro de 2013

Auschwitz - como?

Oi, pessoal,
Hoje foi meu segundo dia em Cracóvia - ou melhor, hoje foi meu dia em Auschwitz. Saímos do hostel às 10h e só voltamos mais de 18h. Auschwitz fica a 1h30 de Cracóvia, e a visita guiada dura mais ou menos 3 horas - pois é... Como eu já falei pra muita gente, eu fui com guia, mas acho que se tivesse ido sem guia a visita seria ainda mais chocante - mas talvez fosse até demais, talvez nem tivesse coragem de entrar em todos os prédios. Com guia, você passa mais rápido pelas coisas, anda em grupo, faz o que a guia manda e se distancia de tudo - as coisas que ela conta parece que ficaram no passado, entende? Mas toda vez que eu me separava por um segundo e parava pra tentar imaginar o lugar com gente ali, era chocante.
Uma das coisas que mais me impressionou foi o tamanho - o complexo de Auschwitz é composto de dois blocos, Auschwitz I e Auschwitz II/Birkenau. Eu já tinha achado Auschwitz I imenso - Birkenau tem 10x o tamanho de Auschwitz I. Como dá pra ver na foto, Auschwitz I está super bem preservado - tanto que parece até cenário, é difícil de acreditar. Todos os prédios, cercas, paredes, tudo está lá, de pé.
Mas uma das coisas que mais mexe com a gente, mais toca, é ver as histórias das pessoas - fotos de homens, mulheres e crianças, alguns que não chegaram a sobreviver nem a um mês dentro do campo, histórias e - principalmente - pertences
Essa foto difícil de enxergar, é de uma sala abarrotada do chão ao teto de sapatos que as pessoas usavam quando chegaram nos campos. A cada par, uma pessoa - como?
Judeus e outros prisioneiros eram trazidos de vários países da Europa pra Auschwitz - mais de um milhão foram mortos só nesses campos - como? Como uma coisa dessas pôde acontecer? Como pôde acontecer na época em que aconteceu, no país em que aconteceu? Como tantas pessoas foram tão coniventes? Como tantos governos foram tão coniventes? Como empresas de renome aceitaram trabalho escravo, fizeram experimentos de todo tipo e - pasmem - compraram até cabelo das vítimas para fazer tapetes?? Como tanta gente alega não ter sabido, mesmo vivendo na trilha dos trens, próximo aos campos? Como pessoas normais se tornaram assassinos de mulheres e crianças? Como prisioneiros se deixaram cair numa situação degradante, morrendo de fome e frio, sem se rebelar? Como????? Parte do(todo?) meu interesse por essa parte da História - bom, todo mundo sabe que eu me interesso por essa época - é porque pra mim, mesmo com toda a documentação, com tudo o que a gente já sabe, vê, ouve e lê, ainda assim, pra mim, é um mistério. Quando eu visito os campos, é pra tentar desvendar mais uma peça desse quebra-cabeças tão difícil - mas quanto mais eu vejo, mais peças desconexas eu encontro. Mais perguntas e menos respostas. Mas se me perguntarem, eu acho que todo mundo deveria ir, todo mundo deveria passar um tempo se fazendo estas perguntas, porque não estamos imunes - pode ser que coisas semelhantes ou horríveis estejam acontecendo do nosso lado e a gente no futuro vai alegar que "não sabíamos". Pode ser que quando aceitamos alguma lei mais severa estejamos a um passo de aceitar coisas cada vez piores. Pode ser que quando algum radical ganha força, a cabeça das pessoas esteja mudando para aceitar atrocidades... então é por isso que esta parte da História não pode ser esquecida, tem que ser discutida a sério, com profundidade, e não se tornar uma página no passado. Por hoje é esse o meu post.

5 comentários:

  1. O questionamento que vc se fez é o que me faço diariamente: Como podemos conviver com certas coisas?
    Assisti por esses dias Lincoln e Django. Em ambos o escravagismo é questionado.Com o distanciamento fica clara a ignorância, a estupidez,a desfaçatez de certas atitudes. O problema é quando essas coisas acontecem ao nosso lado e a gente não percebe. Ou não reage. Ou não questiona. Ou não "vê"....

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  2. Má, deixando o lado racional de lado, achei emocionante este post.
    Eu sei que já tínhamos conversado a respeito, mas lendo do jeito que você escreveu, foi inevitável não querer se emocionar, assim como inevitável não chorar.
    Concordo que devemos ficar alerta pra não se deixar levar por políticos, partidos ou mesmo leis que a princípio parecem unir as minorias, mas que na maioria das vezes esta servindo apenas a interesses de alguns, e infelizmente esses interesses sempre acabam prejudicando e segregando cada vez mais a todos, e não só as minorias.

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  3. Acho que aconteceu da mesma forma que hoje acontece de rotular-se um grupo de "terroristas", "traficante", "viciado em crack" e sermos a partir disso capazes de aceitar que eles levem um balaço da testa ou que sejam alvo de medidas higienistas. Não, uma criança polonesa não merece ter o mesmo destino que um filho da puta que vende crack crianças, mas o que quero dizer é que julgamos e decidimos sem ter todos os elementos esclarecidos. Claro que a escala e o nível de organização dos campos de concentração devem ser incomparáveis (impressionantes os sapatos =O), mas menos mortes injustificadas ainda são mortes ijustificadas hehe.
    Tipo, admito que não me importo se em algum país pobre nesse minuto tem um golpe de estado rolando!

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  4. O assunto do meu seminário integrado deste ano será sobre os grandes ditadores da história, e claro, irei falar sobre Hitler e farei uma maquete de Auschwitz II. Quando for mais velha e me tornar professora universitária de história, quero muito viajar para a Polônia e visitar o Museu de Auschwitz. Imagino que para você deve ter sido uma experiência inesquecível e creio que para mim será também. Adorei seu post, muito emocionante e as perguntas que você se faz são as mesmas que me faço também: "COMO?"

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  5. O assunto do meu seminário integrado deste ano será sobre os grandes ditadores da história, e claro, irei falar sobre Hitler e farei uma maquete de Auschwitz II. Quando for mais velha e me tornar professora universitária de história, quero muito viajar para a Polônia e visitar o Museu de Auschwitz. Imagino que para você deve ter sido uma experiência inesquecível e creio que para mim será também. Adorei seu post, muito emocionante e as perguntas que você se faz são as mesmas que me faço também: "COMO?"

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